MINHA GENTE, PARA QUE TÁ FEIO 🧱 Capítulo 1 – A esquerda que esqueceu de si mesma.


MINHA GENTE, PARA QUE TÁ FEIO
🧱 Capítulo 1 – A esquerda que esqueceu de si mesma

Minha gente, a gente precisa conversar. Mas conversar de verdade, com o coração aberto e os pés no chão. Não adianta mais fazer de conta que está tudo bem. Porque não está. A verdade é uma só: tá feio.

A gente, que veio da luta, da rua, da enxada, do bandejão e do panfleto molhado de chuva, agora está se olhando pelo retrovisor da internet. E o pior é que a gente não se reconhece mais.

Hoje, em pleno 2025, para além da direita que está nos engolindo, estamos sendo esmagados por uma guerra híbrida — uma guerra onde perdemos espaço tanto no mundo físico quanto, e muito mais, no mundo virtual. Porque hoje, minha gente, a gente carrega no bolso um mundo maior do que o mundo onde pisa.

Esse mundo se chama Matrix.

E a Matrix é esperta. Ela antecipa nossos passos antes mesmo da gente se mexer. Ela manipula nossos desejos, nossas reações, nossas conversas. Faz a gente se mover pelos interesses dos grandes manipuladores — que podem ser instituições, plataformas, religiões ou meios de comunicação. A gente só lembra dos algoritmos, mas tem muito mais coisa por trás. São muitos os agentes manipuladores dentro da Matrix.

A Matrix virou o novo campo de batalha. E nela, quem se cala, consente. Quem não fala, some. Quem pensa e se esconde, é atropelado pelos que gritam, espalham mentira, plantam medo — e ganham curtida.

E a esquerda, essa que eu amo, essa que me formou, essa que eu não abandono, está virando refém da própria omissão.

Os grupos do WhatsApp estão tomados pelas pautas da extrema direita. Tudo é "quem foi preso", "quem vai ser preso", "quem falou besteira". Nós, do lado de cá, viramos comentaristas da novela deles.

Enquanto isso, quem tenta falar da nossa própria vida, da nossa própria dor, da nossa base, é ignorado, silenciado ou chamado de “exagerado”.

Tem gente que se diz de esquerda, mas vive no modo comentarista da extrema direita. A raiz até parece firme, mas será que tá mesmo?

Tem muita companheira e companheiro sendo levado na conversa pelo moralismo de WhatsApp, pelo discurso travestido de fé, pelas fake news fantasiadas de verdade. E a gente nem percebe.

Basta olhar os grupos que a gente participa: o povo esqueceu de falar da gente. E quando alguém ousa falar da nossa realidade, dá ruim. A pessoa escreve, todo mundo visualiza, mas ninguém responde. Isso é um silêncio com endereço certo. Um jeito educado de cortar quem pensa diferente.

Então a pergunta é: será que a raiz está pronta mesmo? Ou será que parte da nossa militância já foi domada por dentro, servindo de instrumento da desinformação sem nem perceber?

Porque o caule — que é a consciência — não tá conseguindo crescer. E a culpa é de uma esquerda que se perdeu no próprio reflexo.

As tais “lideranças”, muitas vezes, estão mais preocupadas com vaidade do que com missão. Em vez de botar o pé na lama, preferem os filtros de rede social. E assim, a história se repete: é um olhar na base e dois nas próximas eleições.

E nesse ciclo vicioso, a gente vai virando um partido que performa o que a gente combatia. Um partido de frases prontas, de postagens ensaiadas, de discursos que só alcançam quem já tá convencido.

Viramos, em partes, aquilo que juramos enfrentar: gente que pisa em ovos, vive numa bolha, atua mais na Matrix do que na quebrada.

E o povo, minha gente? O povo tá no campo físico, tentando entender por que a vida segue difícil, enquanto quem deveria estar ao lado deles, tá entretido com a tal "m**** cheirosa" da vaidade política — aquela que todo mundo sabe que fede, mas ninguém quer dizer.

A nossa missão não é like. A nossa missão é luta. E a luta não acontece com discurso bonito no story. A luta acontece quando a gente se olha, se escuta, se organiza. A luta acontece quando a gente rompe com a Matrix, mesmo que seja só um pouquinho por dia.

Porque se a gente não fizer isso agora, vamos virar só memória de um tempo em que a esquerda ainda era povo. E povo, de verdade, não se representa só com fala bonita. Se representa com presença. Com verdade. Com coragem.

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