BLUSINHA, SARMENTO E A BUCHADA GLOBALIZADA
BLUSINHA, SARMENTO E A BUCHADA GLOBALIZADA
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Hoje passei o dia tentando entender que diabo era esse tal de “taxa das blusinhas”.
Um cidadão — desses que vivem no rodapé do grupo, mas de vez em quando se empolgam com um meme novo — resolveu botar esse assunto no fogo.
E não foi só uma vez, não. Foi o dia todinho temperando o grupo com a mesma ladainha:
> “Vocês petistas são os culpados pelas taxas das brusinhas!”
Era blusinha no café, blusinha no almoço, blusinha no jantar. Eu já tava achando que o homem tinha virado sacoleiro digital.
Cheguei a pensar que ele tava vendendo umas peças no varejo. Uma Shein clandestina.
Só que não. Era só mais um repetidor automático. Um papagaio moderno sem pena, que em vez de voar, cola print de WhatsApp.
Desses que não têm raciocínio, mas têm copiar e colar no dedo. Reproduz sem digerir, sem tempero, sem saber a diferença entre panela de pressão e panela de pressão política.
Aí eu entendi: o sujeito não quer conversar. Ele quer berrar.
Ele não tem argumentos — ele tem slogan.
É como aquele cachorro sarmento do sertão: vive se coçando, se mordendo, se sacudindo.
Mas não sabe se é pulga, se é carrapato ou se é só a alma inquieta tentando sair do corpo de tanto ódio não resolvido.
Fui ver o que era a tal da blusinha e entendi: era sobre imposto.
Sim, imposto. A coisa que todo mundo acha ruim, mas sem a qual não existe hospital, escola, ponte nem calçamento.
O que o governo tá fazendo é simples:
taxar as grandes empresas estrangeiras que vendem no Brasil sem pagar os impostos que o comércio daqui é obrigado a pagar.
Ou seja: tentar equilibrar o jogo.
Mas a turma da “buchada gringa” ficou nervosa.
Preferem comprar da Shein sem imposto do que comprar da costureira da esquina.
Defendem o atravessador chinês, mas nunca entraram numa loja de bairro pra perguntar se o dono tá conseguindo pagar o aluguel.
Essa gente vive reclamando de imposto, mas nunca reclamou de sonegador.
Chora pela Shein, mas não derrama uma lágrima pelo feirante do mercado de Peixinhos.
Acha que a buchada feita lá fora é mais gostosa, mesmo quando vem fria, congelada e sem pimenta.
Enquanto isso, aqui em casa, eu sigo cortando meu coentro fresco.
A gente ainda cozinha com panela de barro, no tempo do fogo.
Cada cidade com seu cheiro, cada estado com seu dendê.
Mas tem gente que quer cozinhar o feijão da vida no micro-ondas da Amazon, usando receita de coach no Instagram.
E aí, quando o prato sai insosso, sem gosto de povo, eles culpam a Dilma. Ou a "blusinha do Lula".
A gente tentando fazer um prato nacional, cheio de identidade, e eles vindo com hambúrguer congelado, patrocinado por fake news.
É ou não é pra perder o apetite?
Desse jeito, minha gente, não dá nem pra começar o refogado.
E no fim, deixo o rapaz lá, se coçando na rede dele, achando que tá fazendo revolução porque gritou no grupo.
Se coçando, coçando... até o próprio argumento dele cair feito casca seca de ferida mal cuidada.
Porque aqui, meu filho, a gente cozinha com calma. Com cebola, alho, pimenta e consciência.
E se não tiver arroz, a gente faz cuscuz.
Agora… buchada sem tripa, temperada com mentira, vinda em container da Ásia, servida em prato de plástico e embalada em discurso vazio? Aí não.
Oh glória.
Oh glória, glória, aleluia!
E que não falte farinha nem lucidez na cabeça do povo.
Fernando Kabral
11 de julho de 2025 – 22h19
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