Paródia política espalha desinformação com humor distorcido.

🎙️ Paródia política espalha desinformação com humor distorcido

28 de julho de 2025 – 15h47

Circula nas redes sociais uma paródia da música “Coração Partido”, do grupo Menos é Mais, adaptada com conteúdo político de ataque ao Partido dos Trabalhadores (PT) e de exaltação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, apelidado no vídeo como “Mito”. O tom é bem-humorado, mas o conteúdo é carregado de distorções, desinformações e generalizações que merecem ser analisadas com seriedade.

A letra da paródia afirma que quem votou no PT “se ferrou”, que o partido “roubou a vida inteira” e que, por isso, o eleitor estaria agora “vivendo na mala”, sem picanha, abandonado pelas promessas de campanha. O refrão sugere que o cidadão deveria se arrepender por não ter votado em Bolsonaro, utilizando expressões como “bóia, bandido” para desqualificar quem pensa diferente.

Embora tenha sido feita em tom satírico, a música se insere num fenômeno mais amplo e perigoso: o uso da desinformação política em formatos leves e viralizáveis. Memes, vídeos curtos e paródias têm sido cada vez mais usados para espalhar discursos simplificados, muitas vezes falsos, que manipulam sentimentos de frustração legítima da população.

Vamos aos fatos:

🔹 O PT governou o Brasil entre 2003 e 2016, sendo responsável por políticas públicas amplas de redução da pobreza, ampliação do acesso à educação superior e valorização do salário mínimo. Também houve escândalos de corrupção, como em diversos outros partidos, e várias figuras públicas foram julgadas e condenadas, o que é resultado do próprio funcionamento democrático das instituições de controle.

🔹 A promessa simbólica da “picanha e cerveja” foi usada durante a campanha de Lula em 2022 como crítica à inflação dos alimentos durante o governo Bolsonaro. Dados do IPCA mostram que, desde 2023, houve recuo nos preços de itens da cesta básica, como arroz, feijão e carne.

🔹 O termo “fazer o L” tornou-se símbolo da vitória democrática nas urnas em 2022. Votar no PT não é erro, assim como votar em qualquer outro partido não é crime. Trata-se do exercício legítimo do voto, direito garantido pela Constituição Federal.

🔹 A paródia omite completamente as crises enfrentadas no governo Bolsonaro, como o colapso na gestão da pandemia da COVID-19, as mais de 700 mil mortes, o atraso na compra de vacinas e os inúmeros ataques ao sistema eleitoral. Também não menciona o fato de Bolsonaro estar inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, nem suas recentes implicações com milícias digitais e tentativa de golpe.

Reduzir toda essa complexidade política a um “arrependimento por ter feito o L” é não apenas raso, mas também perigoso. Alimenta um ambiente de ódio, de polarização radical e de desinformação que compromete a qualidade do debate público e enfraquece a democracia.

Desinformação também se disfarça de paródia.
E a verdade, por mais difícil que seja de ouvir, não cabe em verso de música feita para enganar.

Fernando Kabral
Matéria de cunho opinativo
Olinda – Pernambuco
28 de julho de 2025 – 15h47

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