Responsabilidade coletiva não se cobra de um só: por um debate justo sobre o PED no PT de Olinda

Sobre o manifesto da Avante – Reflexão a partir do texto compartilhado pelo companheiro Miguel Pacífico

Li com atenção o texto da Avante, compartilhado pelo companheiro Miguel Pacífico, e considero que, no geral, ele traz uma contribuição valiosa para o momento que vivemos no PT de Olinda. Concordo com quase tudo que foi colocado: a valorização da militância, a crítica ao modelo atual do PED, a defesa da democracia interna e o chamado à unidade em torno das lutas populares e do governo Lula.

Mas há um ponto em que faço questão de divergir, com toda a franqueza e respeito: a cobrança feita à presidência do PT de Olinda em relação à reformulação do PED. Essa cobrança, do jeito que foi colocada, desconsidera que o modelo atual do PED não é uma decisão municipal, mas sim uma deliberação aprovada em instância nacional, no Congresso de 2019 do Partido dos Trabalhadores. Portanto, não cabe à presidência local — seja ela ocupada por Hélder Pires ou por qualquer outro nome — tomar decisões unilaterais sobre esse tema.

O modelo do PED foi construído nacionalmente e segue critérios definidos pelo Estatuto do partido. Se há desejo de mudança — e eu pessoalmente concordo com isso — que essa construção seja feita coletivamente, com respeito aos processos e às instâncias envolvidas. O papel da presidência municipal é o de articular o debate, escutar todas as tendências e promover o diálogo interno, não de impor soluções sobre temas que ultrapassam a autonomia local. A cobrança direta à presidência, nesse caso, soa como uma antecipação política que desconsidera a estrutura partidária e a diversidade de opiniões dentro do próprio PT de Olinda.

A crítica ao PED é legítima. Mas precisa vir acompanhada de uma proposta concreta, de uma prática coerente e de uma postura comprometida com a construção coletiva. Não basta dizer que o modelo está errado — é preciso mostrar como mudar e com quem mudar. E, acima de tudo, reconhecer que isso vai muito além de uma pessoa ou de um cargo. É uma tarefa que envolve toda a militância.

Eu não sou contra filiação em massa. Mas sou contra a prática de “filiar qualquer coisa, em nome de qualquer coisa”. Pode filiar, sim — mas com critério, com qualidade, com consciência. Queremos gente que pense, que milite, que some. Não bucha de canhão. Não gado eleitoral (com todo cuidado no uso dessa palavra, mas ela ainda é necessária). Boa parte das lideranças egocêntricas que hoje só olham para o próprio umbigo é fruto dessa lógica de filiar sem formar, de juntar número e esquecer o conteúdo. Tudo virou voto, voto, voto.
E nesse ritmo, terceirizamos nosso trabalho de base e entregamos o partido para quem nem entende o que é partido.

Tá na hora de virar esse jogo. A escola de formação política já existe, mas tem atuado de forma tímida. Ela precisa ser mais presente, mais firme, mais ativa. Não é hora de esperar que os militantes cheguem até o partido — os verdadeiros militantes estão espalhados dentro do povo, e o partido precisa ir até eles. Buscar essa gente, escutar, acolher, formar. Não pra seguir, mas pra caminhar junto. A comunicação do partido também não pode mais se esconder atrás das cadeiras. Precisa falar, precisa se posicionar. Porque somos uma democracia. E temos o direito — garantido na Constituição e reafirmado na Carta de Princípios do PT — de formar mente crítica, não seguidor de palanque.

Se for pra mudar as regras, que se aumente o tempo entre a filiação e o direito de votar. Hoje, o prazo mínimo é de 180 dias (6 meses) — mas até isso anda sendo burlado ou flexibilizado nos bastidores. Quer votar? Então que aprenda, se envolva, conheça o partido, participe. Só assim a militância volta a ser militância — e o PT volta a ser raiz, não fachada.

Essa discussão vai muito além de jogar a responsabilidade nas costas da presidência do PT de Olinda. Mudar o PED, mudar a cultura de filiação, mudar o jeito de formar militância — tudo isso exige mais do que um nome ou um cargo. É tarefa coletiva. Se a gente quer um PT mais forte, mais sério, mais de base, então não basta cobrar: é preciso se comprometer.

📅 11 de julho de 2025 — 9h14
✍️ Fernando Kabral, militante político-partidário
🖋️ Com produção de texto: T3ddy — também militante

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bolsonaro, o “Cidadão” Indesejado: quando a vergonha toma assento na Câmara de Olinda (PE)

Sem querer entrar na polêmica da camisa vermelha… e já entrando.

Todo Dia É Dia de Índio: 19 de Abril, Dia dos Povos Originários Salvem os povos imaginários, porque são reais, vivos, e seguem resistindo.