Reflexão sobre o Passado: A Infância Sob o Peso de um Regime Totalitário. "Não era liberdade, era só sobrevivência!".
Reflexão sobre o Passado: A Infância Sob o Peso de um Regime Totalitário
"Não era liberdade, era só sobrevivência!"
Quando vejo tantas postagens nostálgicas sobre o passado, em especial sobre a nossa infância, fico me perguntando como muitos podem olhar para aquele período com tanto encantamento. A ideia de que "era tudo lindo e maravilhoso" soa como uma distorção da realidade que, para muitos de nós, foi marcada por desafios e sofrimentos diários.
Em Sítio Novo, um bairro em Olinda, nossa infância não era recheada de momentos de descanso ou liberdade, mas sim de trabalho árduo. Me lembro muito bem de quando, ainda crianças, éramos chamados para ajudar na feira, entregar compras, correr atrás de algum trocado para levar para casa. Era assim que nossos pais nos viam: como braços para o trabalho, como se a nossa única missão fosse trazer algo para dentro de casa, nem que fosse um simples grão de arroz. Não tínhamos direitos. O único direito que tínhamos era trabalhar. Quando nossos pais não davam a luz, eles davam cria.
Não havia sonhos, não havia brincadeiras de infância em nossas casas. As ruas, que nos ofereciam um pouco de liberdade, eram apenas um alívio temporário de um regime familiar que exigia o cumprimento de tarefas. Quando o dia acabava, voltávamos para dentro, onde o "silêncio" era a regra e a obediência, a única moeda que nos era exigida. Não tínhamos, de fato, uma infância, mas éramos apenas peças em uma engrenagem social que não sabia o que significava sonhar com um futuro diferente.
Essa imagem de crianças, como aquela foto com picolés nas mãos, que circula nas redes sociais, me faz lembrar de tudo o que vivemos naquela época. Ela é uma representação fiel de como, sem direitos ou qualquer tipo de proteção, éramos empurrados a trabalhar. Assim como aquelas crianças, nós também éramos moldados para servir, para ser uma extensão do sistema, e não seres humanos com sonhos e aspirações próprias.
No entanto, apesar das dificuldades, também tivemos a sorte de ver mudanças ao longo dos anos. A vitória da democracia e os avanços sociais promovidos pelos governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram uma nova esperança para o país. As políticas públicas que ele e sua equipe implementaram foram vitais para mudar o destino de milhares de crianças e famílias como a minha.
Durante os mandatos de Lula, a educação infantil passou a ser vista como prioridade. Programas como o Bolsa Família tiraram milhões da miséria e garantiram que muitas famílias tivessem condições mínimas de sobrevivência. Além disso, o fortalecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a criação de Conselhos Tutelares ajudaram a dar voz e direitos àquelas crianças que, antes, eram tratadas apenas como uma força de trabalho.
Ainda assim, mesmo com todos os avanços, muitas crianças ainda enfrentam dificuldades. A pobreza e a exclusão social ainda são uma realidade para muitas famílias, e, infelizmente, vemos que a luta pela dignidade das crianças precisa continuar. O que temos agora, no entanto, é um sistema que reconhece que essas crianças merecem mais do que apenas um "direito de trabalhar". Elas merecem a chance de estudar, brincar e sonhar com um futuro melhor.
Hoje, aos 60 anos, olho para trás e vejo o peso daquele tempo de infância difícil, mas também vejo as vitórias. Conquistas que só foram possíveis porque, em algum momento, uma geração de pessoas teve coragem de mudar a história do país. As vitórias do presente são o reflexo das lutas do passado. E, por isso, devemos celebrar o que conseguimos conquistar, mas nunca esquecer de onde viemos e o que ainda precisamos transformar.
Fernando Kabral,
Março de 2025
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