CARTA DE UM MILITANTE DESILUDIDO (MAS NÃO RENDIDO).
CARTA DE UM MILITANTE DESILUDIDO (MAS NÃO RENDIDO)
Eu sou paulista, nascido na capital. E por isso me dou o direito de falar sobre o interior do meu estado, porque conheço bem a diferença. Lá no interior, muitos se acham ricos, mesmo sendo explorados. É uma massa perfumada, alimentada por um discurso de prosperidade que esvazia a consciência de classe. Falta chão, falta luta, falta reconhecer que estão do lado errado da trincheira. Falta-lhes consciência de classe, e isso tem nome: projeto da direita. Um projeto que sequestrou o povo com promessas divinas de riqueza e ascensão individual, enquanto o coletivo apodrece.
Tenho lido muitas cartas, textos e mensagens de campanhas, principalmente vindas da região de Ribeirão Preto, Nova Odessa e me espanta como todas parecem seguir a mesma fórmula: generalidades, frases de efeito, termos reciclados. Textos estéreis. Vem dando a impressão de que estamos diante de uma epidemia de mesmice política. Falas que poderiam sair da boca da direita perfumada. E estamos falando do Partido dos Trabalhadores.
Cadê a radicalidade que fez o PT ser o que foi? Cadê a base? Cadê a ferida exposta, o dedo apontando o problema real, sem medo de se sujar? O que vejo é uma onda de campanhas que fogem do povo real. O povo que tá na merda, literalmente. O povo que tá desiludido. E por estar desiludido, acredita em qualquer promessa de salvação, incluindo aí o fundamentalismo religioso que sequestrou a classe trabalhadora com sua teoria da prosperidade travestida de fé.
Estamos diante de um partido que anda tanto à direita, tanto à direita, que precisamos urgentemente de uma volta radical à esquerda. Não me refiro aqui a slogans ou bandeiras, mas à essência: à escuta verdadeira da base, à coragem de dizer o que ninguém está dizendo, à disposição de arregaçar as mangas e reconstruir o partido por dentro. Não se trata de refundação simbólica. É reconstrução real. Partido novo, sim, mas com alma velha de luta. E não esse “novo” da direita higienizada, que pinta o retrocesso de inovação.
É por isso que escrevo. Não por ressentimento, mas por respeito. Respeito ao meu próprio percurso, à militância que trago nas costas, à história que o PT representa. E também por respeito aos companheiros e companheiras que, como eu, ainda acreditam que é possível resgatar o partido do torpor em que se encontra. São milhões de militantes como eu, espalhados pelo país, esperando que alguém diga o que precisa ser dito.
Eu continuo aqui, do lado de cá, com os pés no chão, literalmente porque sei que tem muita gente que ainda olha para o PT como a única esperança possível, assim como eu. E é por essa e outras que não podemos mais fingir que tá tudo bem. Porque não tá.
Fernando Kabral
09 de maio de 2025 - 14:22
Olinda, PE
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